domingo, 8 de janeiro de 2012
Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento
dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um
documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde
morre. Como assim? E os e-mails que você
ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você
prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta
idéia: morrer. A troco? Você passou mais de 10
anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que
não serviriam para nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em
frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não
desistiu. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na
freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente
que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um clichê. Obriga você a
sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado
com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua
música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos
cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas.
Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas
gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.
Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu! Que pegadinha
macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por 1
rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez
não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois
maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e
morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem
vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Morrer
cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça! Pedro Bial
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